Tenho uma formiga amiga

14-06-2013 18:53

“Lamento, não sabia. Ignorei sinais vermelhos e nem dei por isso. Tropecei na armadilha da solidão e percorri uma auto-estrada que não era a minha. Mais ou menos como uma formiga perdida que desesperadamente insistiu em entrar num carreiro que não é seu e que todos já observámos um dia, onde quer que haja formigas. Apesar de percorrido por outros seres iguais, que caminham desenfreadamente com rumo e com passo certo, harmonizando-se entre si, são evidentes os sinais de indiferença e repulsa que afastam quem não pertence àquele trilho, preferencialmente com agressividade despudorada. Como uma purga natural e espontânea.”

Sorrio.

Gostava de poder ajudar o pobre bicharoco a enfrentar esta realidade, com a distância que só uma observação desapaixonada permite. É tão verdade que quanto mais de perto observamos, pior conseguimos ver! Ainda ontem no trailer de uma estreia qualquer no cinema revi esta “lapalissada” monumental. Tão óbvia como fazer sol no Verão. Tão invisível quanto o tamanho da esperança da formiguinha perdida. Mas as formigas não vêm televisão.

Durante muito tempo, e de uma forma sentida e autêntica, a formiga desenvolveu os comportamentos que, apesar de seus, autênticos e genuínos, orientou totalmente à entrada na fileira de “irmãs”, investindo tudo em alcançar uma direcção. Sobreveio agora, porém, o dilema e o desacato interior, a inquietação, quando é confrontada com a pedra no caminho que as outras insistem penosamente em subir, com adição de esforço suplementar, quando (está-se mesmo a ver!) poderia ser torneada em menos que metade do tempo e de suor. E pior nem é isso. Pior é perceber a mentira, o embuste, o desamor e a irresponsabilidade que continuam a embalar o ritmo da dança das viajantes, como coisas naturais, banais entre pares. Enfim, de valores que não reconhece como seus.

Esta formiga percebeu tarde demais que uma coisa são trilhos e outra são caminhos.

E que, apesar de pontual ou esporadicamente se poderem tocar, se tratam de coisas diferentes, que se distinguem principalmente pela orientação no percurso, vertida nas coordenadas que nos guiam.

Escolheu caminhar.